Escrever sobre a incrÃvel arte de um dos maiores mestres da HQ de Terror no Brasil, Júlio Shimamoto, sem dúvida, não é nada fácil! Shima é admirado pela sua carreira; Por sua luta pela HQ Nacional, através de grande e muito bem estruturada produção; Pelo seu estilo; Pelo bom papo; Pela força que sempre deu aos colegas e, claro, pelo seu desenho e texto inigualáveis! O traço sempre forte, distorcido, nervoso e sofrido revela o estilo inconfundÃvel. O domÃnio de variadas técnicas, permite com que expresse tanto uma sanguinolenta história de horror como uma lenda zen com a mesma destreza. De uma página inteiramente negra, ele faz com que imagens fantásticas surjam por meio de traços brancos, rápidos e poderosos, como relâmpagos numa noite sombria enchendo-nos de surpresa a cada quadrinho. Em seguida, na próxima história, uma pena de traço fino e suave dança freneticamente no branco do papel trazendo-nos agora uma aventura do sertão brasileiro, dos pampas gaúchos, ou uma vigorosa interpretação de alguma belÃssima lenda zen. Isso é pouco para descrever tudo aquilo que Shima consegue fazer graficamente. É preciso que cada um veja e sinta por si mesmo a grandeza da arte desse descendente de samurais, capaz de cortar o papel com nanquim e um pincel de ponta cuidadosamente aparada de forma mágica, como só ele sabe, para que dali, sob seu controle, brotem todas as imagens desse universo sinuoso e trágico.
Tomei contato com a arte de Shimamoto bem cedo, no inÃcio da adolescência. A partir daÃ, ela sempre foi uma das minhas principais referências: “Um dedo que aponta para a luaâ€. Essa poderosa e expressiva arte vem, como já dito, de uma mistura muito bem dosada de suas origens nipônicas mescladas a uma intensa brasilidade. No inÃcio de minha carreira, e nos anos seguintes, pude manter contato com o mestre, por cartas, telefonemas até chegarmos na fase dos e-mails. Enquanto escrevo, olho a HQ “FOMEâ€, publicada no álbum “SOMBRASâ€, pela Opera Graphica – para mim, um dos clássicos da HQB de terror. Paro, mexo um pouco mais na coleção e agora detenho-me em outra HQ de estilo totalmente diverso. E assim vai… seguro-me para não parar de vez e passar o resto do dia relendo as histórias e deleitando-me com sua arte. Sem dúvida, meu velho mestre é um grande exemplo: sempre inovando. Lembro-me de ter insistido com ele para usar mais o computador. Sempre tive a curiosidade de ver o que poderia aprontar com a parafernália digital à sua disposição. Só que. Com ou sem computador, Shima continua, surpreendente, inigualável, inesquecÃvel. Estou muito satisfeito em poder escrever esse texto e colaborar nesse site em homenagem ao “Samurai dos quadrinhosâ€! Parabéns a todos que são sensÃveis aos nossos artistas de verdade. Que não deixam o quadrinho brasileiro ser esquecido. Aos que sempre reconheceram esses talentos. Talentos que não precisam dos holofotes dos modismos pois, em si mesmos, são luzes eternas. Parabéns a todos que fizeram esse site. Obrigado amigo Shima!
Mozart Couto
Desenhista
Se ele morasse no Japão e em outra época, seria um samurai. Não um samurai comum, mas um nobre samurai, daqueles que defende com a própria vida a sua honra.
O Shima, além de um grande artista, é uma pessoa corretÃssima. Tenho muita honra de conhecê-lo. A primeira vez que o vi foi numa reunião da Grafipar, com o Cláudio Seto,em Curitiba. Fizemos vários trabalhos de quadrinhos juntos, e o último foi o Banzai! sobre a imigração japonesa no Brasil, em 2008.
Muita saúde e paz para o grande mestre Shima!
Noriyuki Sato
Ex-presidente da Abrademi São Paulo
O Shima sempre foi um cara super “gente finaâ€!
Aquele amigo com quem a gente pode sempre contar e conversar sobre os mais diversos assuntos!
Até hoje me lembro, quando nos conhecemos, há mais de quinze anos atrás, quando fui até a casa dele, no bairro do Taquara de carro, junto com os amigos Noriyuki e Cristiane Sato.Â
A viagem foi uma verdadeira “odisséia†para mim, já que nunca havia ido até lá antes. Mas, como bom carioca, fui perguntando a todo mundo que encontrei pelo caminho até chegar a casa de meu amigo.
Lembro até hoje como o Shima me recebeu de braços abertos! Com um sorriso imenso!
Os anos foram fazendo nossos laços de amizade ficar ainda mais forte e meu respeito e admiração dele como amigo e desenhista profissional aumentarem mais e mais.
Hoje em dia, sinto-me privilegiado de ter o Shimamoto como amigo! Ele é um grande desenhista e uma pessoa sensacional!
E, através desse depoimento, afirmar com “todas as letrasâ€, nesse site, que você Shima é um grande desenhista e um amigo fantástico!
Desejo de todo coração, meu amigo, muito sucesso e muitas alegrias, pois você merece!
Abraços,
Allen
Allen Wajnberg
Abrademi Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, ano de 2007.
Vou até o bairro da Taquara encontrar com um amigo que me ensinaria chegar à casa de um de meus Ãdolos dos quadrinhos. Há quase vinte anos, acompanho o trabalho de Júlio Shimamoto de longe. Nem fazia ideia de que ele vivia no Rio.
Quando tomei conhecimento do seu nome, procurava absorver o máximo de cultura oriental que encontrava a meu dispor. Era um dos aspirantes a mangaká do inÃcio dos anos 90, e foi nessa época que passei a acompanhar Allen Wajnberg nas reuniões da Abrademi-Rio. Acabei por conhecer o peso dos artistas que faziam mangá no Brasil em décadas passadas.
Para minha enorme surpresa, Shimamoto não fazia uso das linguagens sequenciais utilizadas por Claudio Seto, por exemplo. Ele não fazia mangá tradicional, mas exibia um tratamento pictórico bastante interessante, para não dizer perturbador.
Ao chegar em sua casa fui recebido no portão pelo próprio. Misto de susto com grande honra e admiração. Sua simplicidade contrastava com os traços pesados e sombrios. Aprendi desde o contato visual até a despedida, já ao anoitecer.
O objetivo era coletar informações para meu projeto de fim de curso na faculdade. Acabei não usando nada do que conversamos. O projeto era grande demais para ser concluido a tempo e acabei tendo que mudar o tema na última hora. Óbvio que foi um fracasso. Pessoalmente, ganhei muito em ter iniciado a pesquisa em torno dos quadrinhos brasileiros. Aquela tarde com Shimamoto e sua doce famÃlia modificou completamente minha percepção dos quadrinhos.
Na faculdade todos estavam mais preocupados em concluir o curso, ao invés de desenvolver projetos trabalhosos que poderiam contribuir com nossa formação. Fiquei por mais um perÃodo, mas foi ótimo.
Durante nossa conversa em seu estúdio abdiquei das perguntas pré-formuladas para vasculhar a experiência do mestre.
Como era de se esperar, ele me contou belas histórias de samurais e de sua infância no interior de São Paulo. Personagens que conheço desde a infância ganharam novas imagens sob sua ótica. Yagyu Jubei, Sasaki Kojiro, Takeda Shingen e o poderoso Miyamoto Musashi. A história da técnica de espada onde Sasaki Kojiro cria o Tsubame Gaeshi (volteio da andorinha) acompanhou-me até em sonhos por meses.
Estava escurecendo quando contei-lhe de um projeto pessoal de quadrinhos. Nada de detalhes. Estava mais interessado em ouvi-lo do que em falar. Mesmo assim, acabei entendendo suas gravuras em cerâmicas e talhadas em madeira. Seu ensinamento maior foi olhar para dentro de mim e para a imensa cultura que temos neste paÃs.
Já tendo mencionado minha história de cangaceiros, percebi que a linguagem de Shimamoto poderia não ser mangá, mas era ainda mais valiosa por frear meu olhar para as belezas culturais do meu paÃs. A xilogravura era sertaneja o suficiente para contar histórias orientais. Então o que me impedia de fazer mangá com cangaceiros?
Ao diminuir minha velocidade de absorção de mangás industriais, aprendi que não havia limites para a imaginação de quem busca suas próprias riquezas interiores.
Conheço menos mangás hoje do que há seis anos atrás, mas o conteúdo de meus trabalhos pessoais tem mais qualidade.
Domo arigatô, Shimamoto Sama!
Sami Souza
Abrademi Rio de Janeiro